Não é uma bonequinha?

Na verdade, saudade é bom e pode ficar. A tristeza é que está indo embora...“Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora
saudade que mora no meu coração”
Nuvem e Bastet vivem conosco há dois anos. Aprendemos, aos poucos, a dividir a casa com as bichanas. Ou será que ocorreu o contrário? Já não imaginamos assistir a um filme ou sentar em frente ao computador sem a serena companhia das duas.
Enfrentamos, porém, um grande problema que imagino não ser apenas nosso. Quando estamos longe de casa, a tecnologia não oferece recursos que nos ajudem a manter contato com as habitantes que miam. Não adianta enviar e-mails, telefonar ou mandar torpedos. Nem sequer outra pessoa nos substitui ou serve para amenizar a falta que elas sentem de nós. Mesmo se instalássemos câmeras pela casa, apenas poderíamos vigiá-las, mas elas não perceberiam nossa presença.
Ao girar a chave e abrir a porta, percebo um par de focinhos ávidos por algo que só eu ou o Duda podemos fornecer. Vejo rabos balançando, barrigas sendo expostas com um só objetivo. Só depois, é claro, de uma boa espreguiçada ou uma coçada na orelha, afinal estamos falando de gatas! Impossível não largar tudo para fazer carinho na dupla mais dengosa do pedaço. Brinco, converso e afofo bem os pelos de cada uma. Ouço um motorzinho avisando que está feliz com minha presença. Olhos se fecham e não escondem que esperaram ansiosamente por esse momento durante todo o dia.
A primeira conclusão a que chego é que a tecnologia pode diminuir distâncias, mas o contato direto continua sendo insubstituível. A segunda, modéstia à parte, é que sou a bolachinha mais recheada do pacote!
“Por que você não olha pra mim
Por que você diz sempre que não
Por que você não olha pra mim
Em cima dessas rodas também bate um coração”
Poema de Helena Lanari
Gosto de ouvir o português do Brasil
Onde as palavras recuperam sua substância total
Concretas como frutos nítidas como pássaros
Gosto de ouvir a palavra com suas sílabas todas
Sem perder sequer um quinto de vogal
Quando Helena Lanari dizia o "coqueiro"
O coqueiro ficava muito mais vegetal