segunda-feira, 9 de abril de 2007

O país do paradoxo

Os controladores de vôo pediram perdão. O tráfego aéreo, aparentemente, voltou ao normal. E vivemos felizes para sempre. Em um país decente a história não deveria ser essa. Depois do acidente do vôo 1907 da Gol com mais de 150 vidas perdidas, ocorrido há quase seis meses, soubemos que os controladores aéreos - profissionais responsáveis pela prevenção de colisões entre aeronaves e entre aeronaves e obstáculos nas imediações dos aeroportos – estavam trabalhando em situação precária, acima da carga horária permitida, ou seja, acarretando total insegurança ao tráfego aéreo. Amplamente divulgada pela imprensa, a paralisação da categoria foi o assunto principal da semana passada. Vimos pessoas irritadas, expressando com batom a raiva nos vidros de aeroportos, passageiros dormindo em saguões, uns usando narizes de palhaço, outros (poucos, ainda bem!) agredindo funcionários de companhias aéreas. Apesar das reivindicações isoladas, não soube de uma só manifestação organizada para demonstrar a indignação dos milhares de passageiros lesados pelo apagão.

Enquanto isso, no mesmo Brasil, na última sexta-feira, 6 de abril, cerca de cem torcedores do Corinthians ocuparam durante mais de uma hora as instalações do Parque São Jorge, onde a equipe treinava, para protestar contra a eliminação do clube no Campeonato Paulista. Além de apresentarem cartazes, exigindo a renúncia do presidente do clube, segundo notícia do Yahoo “os torcedores se manifestaram contra a diretoria do clube e chegaram com vassouras, para varrer a corrupção”.

Será que o fracasso no futebol é a única coisa que nos tira do sério e nos impele a reivindicar? O povo brasileiro parece estar apático, sem reação, frente às mazelas das nossas instituições. Todos os dias pagamos um ingresso bastante caro para assistir à seqüência de barbaridades que assola o nosso país. Acredito que os controladores deveriam ter pedido perdão menos pela paralisação de 30 de março, do que por terem ligado o sinal de alerta somente quando a situação se tornou insustentável. A exemplo deles, peço desculpas por não levantar bandeiras, por não sair às ruas exigindo respeito das autoridades. Porém, o pedido de perdão que quero ouvir é do governo brasileiro, que assistiu de braços cruzados à evolução da crise e, como sempre, não soube agir na hora certa. Como dizia o Premeditando o Breque “aqui não tem terremoto, aqui não tem revolução, é um país abençoado, onde todo mundo põe a mão!”.

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